"Se me aposentar vou continuar fazendo isso: escrevendo”, afirma Nilza.
A convivência com a arte na atmosfera familiar, desde muito cedo, foi a forte influência para uma escolha que ocorreria no futuro da vida da servidora Nilza Menezes. Natural da cidade paranaense de Mandaguaçu, filha de mãe artesã e pai músico, sempre conviveu com o trabalho deles, principalmente do seu pai, de origem espanhola, o qual amava música, bailes, cantorias e festas populares. Cantigas de roda e outras expressões culturais sempre eram executadas no ambiente familiar e em outras ocasiões quando a família se reunia.
Cruzeiro do Oeste, Zona Rural do
Estado do Paraná, foi a cidade em que morou desde os seis primeiros meses até a
adolescência. Nilza conta como foi seu contato inicial com o mundo da escrita.
“Fazer versinhos, lidar com a rima, ritmo, sempre esteve presente. Quando fui à
escola, os poemas do livro de leitura era o que mais me chamava a atenção.
Gostava de decorar e declamar na escola. Quando fui, para o que na época
chamavam de ginásio, aos 12 anos, descobri a biblioteca; lá estavam José de
Alencar, Machado de Assis, Castro Alves, Cassimiro de Abreu e Fernando Pessoa,
que quando comecei a ler, fiquei apaixonada. Fui ler Pessoa para minha mãe, ela
ouviu e disse para não ler, pois eu poderia ficar louca. Já era tarde”,
relatou.
Nilza começou escrevendo poemas, pequenas crônicas e textos para jornais, pois trabalhou em jornais e revistas dos 18 aos 25 anos de idade. Chegou a ser radialista, apresentando um programa de leitura de poemas com músicas.
Depois desse período ingressou no mundo acadêmico com os trabalhos científicos da Universidade, das pós-graduações, do mestrado e do doutorado. Paralelo a isso, desde 1999, no Tribunal de Justiça de Rondônia, como servidora, trabalhou no cuidado da memória, na construção da história deste Poder, produzindo trabalhos nessa área. “Esses trabalhos me realizaram profissionalmente, pois me oportunizaram entrelaçar a história, a sociologia, a poesia e outras manifestações culturais”, disse.
Atualmente, aos 63 anos de idade, Nilza é autora de várias produções textuais em diversos segmentos, sobretudo suas poesias em publicações como: Poemas (1973), Rascunhos (1978), A louca que caiu da lua (1994), Poemas e Magia (1195), Princesas Desencantadas ou a História das mulheres que ousaram sonhar (1996), A louca que caiu da lua, 2ª edição (1997), 50 mulheres – Coletânea (1997), Fruta azeda com sal (1997), Sina: troco ou vendo em bom estado (1999), Duas palavras (2000), Feitura (2003) e Arma da mulher é a língua (2016).
A autora faz uma reflexão sobre o
ato de escrever. “É muito difícil nos definirmos, explicar o que escrevemos,
pois quem lê pode dar outros significados. Acho que a condição feminina, o meu
lugar no mundo e a forma de olhar os outros, é que foram me fazendo escrever o
que não coube em mim, o que eu queria explicar, justificar, comentar”,
reconheceu.
Sobre o que a motiva a escrever,
ela explica que o surpreendente é que a move, “Acho que é o espanto. Quando
fico espantada com alguma coisa, com alguma situação, escrevo. Espantada pela
dor, pela alegria, pelo incômodo”, reflete.
Ela acrescenta, ainda, que
escrever é “Pensar. Falamos em ficar em estado de poesia, mas esse estado de
poesia é pensar, sentir, ver, ouvir. Todos os sentidos. Não basta só
inspiração. Para escrever precisamos ler muito, estarmos focados no fazer, seja
para textos acadêmicos, técnicos ou poesia”, argumentou.
A escritora diz que segue na
nobre missão de escrever. “Continuo escrevendo poesias quando tenho meus
incômodos. Ao mesmo tempo estou com projetos pessoais de pesquisas sobre história,
gênero e religião que são meus objetos de investigação”, afirma.
Nilza defende o ato de escrever e faz isso porque gosta. “Sempre falo que sou privilegiada, pois sou paga para escrever. Tenho o privilégio de todos os dias sentar para fazer isso. Por isso, não me aposentei e continuo trabalhando, pois faço o que gosto. Se me aposentar vou continuar fazendo isso: escrevendo”, concluiu.
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