Espetáculo teatral ressignifica episódios registrados nos processos do Centro de Documentação Histórica do TJRO
O grupo “O Imaginário” põe em evidência as mulheres marginalizadas do passado de PVH
Mulheres de diferentes épocas, com histórias marcadas pela violência. Elas foram rés em processos hoje arquivados no Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de Rondônia. Processos que revelam as dificuldades delas em um ambiente hostil e opressor do passado da região.
Essas histórias registradas nas páginas frias do processo ganham vida na dramaturgia do grupo “O Imaginário”, que encena o espetáculo “As Mulheres do Aluá”, baseado nos dados pesquisados junto ao CDH. “São processos a partir de 1912 que correspondem às comarcas de Santo Antônio e Porto Velho”, explica a historiadora Nilza Menezes, diretora do CDH.
Dentre as personagens, uma mulher identificada como Josefa, que em 1920 foi acusada de feitiçaria, uma cigana que lia a sorte dos habitantes locais e se envolveu em um crime em 1914, uma prostituta moradora da vila, com histórico de brigas e espancamentos e uma barbadiana acusada de matar uma comerciante. Além delas outras histórias de outras mulheres são incorporadas às quatro personagens vividas pelas atrizes Agrael de Jesus, Amanara Brandão, Jaque Luchesi e Zaine Diniz. “Nos colocamos no lugar dessas mulheres. Procuramos, por meio das emoções, reconstituir suas angústias, suas vivências. Para nós está sendo muito enriquecedor resgatar esses episódios de seres humanos marginalizados pela sociedade”, diz Zaine.
A partir da pesquisa, o grupo “O Imaginário” encomendou o texto para o dramaturgo Euler Lopes Teles. Mas o espetáculo vai além do script, conforme explica o diretor Chicão Santos, que busca na encenação elementos regionais, como o ritual da feitura do aluá, bebida derivada do milho de forte influência indígena.
Outro aspecto significativo é a trilha utilizada que alude aos costumes e mitos ribeirinhos. Alguns objetos cênicos também causam impacto, pois concentram em sua significação toda a violência representada por essas personagens. “Nós queremos provocar o público para refletir, por meio dos crimes retratados na peça, toda uma conjuntura social e a condição da mulher nesse contexto”, destaca Chicão Santos.
Para a historiadora Nilza, os documentos históricos do Judiciário são importantes para as várias formas de pesquisa, tais como os processos migratórios, relações de poder, entre outras questões identificadas dentro do processo. “É muito bom saber que nossa história está sendo ressignificada por meio da arte”, concluiu.
"Mulheres do Aluá" estreia no dia 8 de setembro, segunda-feira, às 20h, no Teatro 1 do Sesc, durante o Festival Palco Giratório.
Assessoria de Comunicação Institucional