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10/10/2023 14:26

A foto mostra Denise durante palestra sobre violência sexual contra crianças e adolescentes.

A assistente social faleceu no domingo, deixando um legado de ativismo em direitos humanos


A fala doce e o jeito tranquilo eram a marca registrada de Denise Campos, mas se o tema era infância e Juventude as palavras sempre foram firmes em defesa de crianças e adolescentes. A assistente social aposentada do Poder Judiciário, falecida no domingo, 8 de outubro, era referência nacional nesta área, um ativismo que exercia com leveza e comprometimento, por isso colegas de trabalho e a sociedade em geral reconhecem a exemplar trajetória profissional e as qualidades pessoais que corroboram para o belo legado de atuação deixado por ela com relação ao ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente.

DeniseColagem2.jpgDenise ingressou no Poder Judiciário em 1985, portanto uma pioneira na atuação psicossocial, quando a área da infância ainda era regida pelo Código de Menores. Em 1990 fez o concurso público e se efetivou no Judiciário, ano em que foi promulgado o Estatuto. Denise logo encampou a defesa do ECA, como conta a colega de trabalho e amiga de vida, Sayonara Souza.  “Ela fez um curso em Belém e já voltou com a ideia de implementar o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente. Daí não parou mais”, relembrou emocionada.

Participou praticamente de todos os programas que o Tribunal de Justiça de Rondônia desenvolveu na área da infância com destaque para alguns recentes como o Miracema e o Diálogos.

Em 2013 o projeto, na época Diálogos – hoje ação permanente do NUPS de Proteção à Infância e Juventude - foi pensado por Denise Campos, por perceber que a condenação penal nos casos envolvendo violências físicas e psicológicas contra crianças e adolescentes não resolviam as problemáticas nas relações familiares. O grupo realiza encontros onde pais e cuidadores podem ressignificar a forma de lidar com crianças e adolescentes.

Em 2016, por conversa com o magistrado na época que percebia que a sentença nos casos de abusos sexuais contra crianças e adolescentes nas regiões ribeirinhas e rurais, onde meninas menores de 14 anos constituem famílias, era um agravante social, foi pensado como fazer um trabalho de orientação nessas comunidades. Assim, Denise Campos com sua vasta experiência em projetos sociais, pensou na metodologia que é empregada na ação – também anual, e batizou Miracema, que segundo ela, significava em tupi-guarani “O nascer de uma criança”.


Ativismo nacional

A foto mostra Denise em vários momentos de ativismo na proteção da infância.

Fundadora e integrante do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Maria dos Anjos, além de ter participado ativamente em vários conselhos de direitos, na construção do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura e vários processos participativos de direitos humanos, Denise foi uma das mais importantes articuladoras de movimentos e lutas pela infância e juventude no país. 

Atuou diretamente na fundação e construção de várias entidades e articulações da sociedade civil, como a Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED) e Fórum Nacional de Direitos da Criança (Fórum DCA). Sempre foi também, uma intelectual que refletiu o sobre Prevenção e Combate à Exploração e Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. 

Foi coordenadora do Comitê Nacional pela Região Norte, depois como representante da Anced na rede Ecpat Brasil. Durante a pandemia de Covid-19, ajudou a dirigir um documentário da campanha "Faça Bonito", promovendo a sensibilização sobre o tema. 

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Em razão dessa atuação, O Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes e a Rede Ecpat Brasil manifestaram pesar por sua morte. “Uma mulher conhecida e respeitada por suas lutas, pela defesa intransigente dos Direitos Humanos e toda uma vida dedicada às pautas de garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes. Seu modo de viver e sentir a vida nos mostrou várias alternativas para seguir um caminho mais leve, calmo e cheio de doçura. Sua ausência deixa um vazio para seus familiares, amigos e para nós do movimento da infância e adolescência que tivemos o prazer de dividir contigo muitos momentos de alegria, luta, avanços e resistência”. 


Aposentadoria

Colagem com fotos de Denise e os colegas de profissão em vários momentos de projetos desenvolvidos.

Denise se aposentou do Poder Judiciário em 27 de maio de 2019, mas sua atuação vibrante e empolgada não cessou. Até que em 2022, recebeu o diagnóstico de leucemia. Após passar por tratamento, houve a necessidade de transplante de medula óssea, doada pelo próprio filho. Vinha se recuperando bem, mas em razão da fragilidade da saúde acabou contraindo pneumonia, o que a levou a óbito no domingo, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, deixando impactados a todos que acompanhavam seu trabalho com grande admiração e respeito.

“Denise foi um farol de lucidez, generosidade e esperança... Sabia travar batalhas por um mundo mais igualitário e com suas melhores armas, o saber e a candura. De uma compaixão extraordinária, se importava e atuava por uma infância e juventude mais dignas e mais justas, Denise inspirava a gente a se incomodar, a buscar tempo melhores”, escreveu a colega Danielle Correia, do Núcleo Psicossocial do TJRO


Mais Homenagens


A foto mostra o desembargador Valdeci Castelar Citon.Magistrados que atuaram diretamente com a assistente social no antigo Juizado da Infância e Juventude, hoje Vara de Proteção ao Infância e Vara Infracional e de Execução de Medidas Socioeducativas, também renderam homenagens a ela. Valdeci Castellar Citon, hoje desembargador, Dalmo Bezerra e Marcelo Tramontini, foram juízes da área e acompanharam de perto a trajetória de Denise.


Valdeci Castellar Citon

Tive um grande prazer em trabalhar com a Denise. Foi uma convivência amigável e de grande aprendizado. Sempre admirei seu trabalho, em especial a sua dedicação à causa da criança e do adolescente. Sua dedicação não se resumia a uma questão funcional, mas extrapolava para a sua vida. Sua vida foi uma inteira doação em defesa desta parcela tão vulnerável de nossa sociedade.


A foto mostra o juiz Dalmo Bezerra.Dalmo Bezerra

Hoje quero prestar uma homenagem a uma pessoa especial, nossa querida colega Denise Campos, que infelizmente nos deixou recentemente. Denise era uma profissional exemplar e uma verdadeira inspiração para todos nós.

Quando cheguei ao Juizado da Infância e Juventude em 2010, fui recebido por uma equipe comprometida e dedicada à defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Era evidente que todos trabalhavam incansavelmente em prol de uma sociedade melhor e de um futuro mais promissor. E no meio dessa equipe brilhante, Denise se destacava.

Como principiante no complexo sistema da Infância e Juventude, pude aprender muito com os vastos conhecimentos e a sabedoria de Denise nesse universo delicado, problemático e muitas vezes negligenciado. Ela não só possuía um entendimento profundo das questões que envolvem a infância e a juventude, como também tinha a capacidade de transmitir esse conhecimento de forma apaixonada e envolvente.

Denise não se limitava a exercer suas atividades durante o horário de trabalho. Ela vivia e respirava a causa em que acreditava. Participava ativamente de conselhos e reuniões, transformando o que era teórico em prático. Sua dedicação era inigualável, e ela tinha o poder de fazer as pessoas se apaixonarem pela causa das crianças e do adolescentes.

Nós agradecemos a Denise por seu trabalho incansável, por sua liderança e por nos inspirar a sermos melhores profissionais a cada dia. Sua ausência deixará um vazio em nossos corações, mas seu legado e sua paixão pela defesa dos direitos das crianças e adolescentes continuarão a nos guiar. Que sua alma descanse em paz, Denise. Você será eternamente lembrada como uma verdadeira defensora das crianças e dos adolescentes.

A foto mostra o magistrado Marcelo Tramontini


Marcelo Tramontini

Tive a satisfação de conhecer a Denise, quando fui trabalhar na infância e juventude, há mais de 12 anos. Uma profissional altamente competente, qualificada, dedicada, acima de tudo um ser humano que devemos ter o maior respeito. Uma pessoa que fazia muito mais do que seu próprio trabalho, com uma sensibilidade social muito acima da média. Uma grande perda para o Tribunal de Justiça, ainda que estivesse aposentada, para a sociedade rondoniense e para a causa da infância e da juventude. Mas ficou o seu legado, que nunca será esquecido.


Assessoria de Comunicação Institucional

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